27 de jan. de 2016

Anemia amorpriva

- O que te traz aqui?
- Acho que estou doente, doutor
- Quais os sintomas?
- Meus olhos estão inchados
- Pode ser conjuntivite
- Acho que perdi muito peso também
- Vou te passar uns exames
- A minha cabeça lateja
- Algo mais?
- Por vezes me sinto tonta, e aí me vem um enjôo de súbito, e de súbito se vai
- Prossiga
- Suor constante, acompanhado de febre
- Ah, querida! Isso é deficiência!
- De ferro, doutor?
- De amor

Finge dor

Tão longe e distante
Tão perto e acalmante
Um baita de um fingidor
Finge tanto que chega a ser dor
Por vezes, finge ser amor
Tão perto e acalmante
No entanto, longe e distante
Um baita de um amor
Ama tanto que chega a causar dor
Por vezes, finge ser fingidor
O que fazer? O que pensar?
Sei apenas sentir, falta
Sinto sua falta.

Nós entre nós

Se alguma vez pensou em mim
Ou talvez quando me viu
Se viu mais que feliz
Pode ser que haja
Algo entre nós
Nos nossos
Nós

16 de jan. de 2016

Mais que quilômetros

Você parece almejar meu desprezo, gasta todas as suas oportunidades de me ter - ainda mais - tentando me perder, repele-me como um inseto, você tenta, mas eu vejo. Suas tentativas, falhas, não ofuscam os seus indícios de me querer por perto, querer a minha atenção, o meu "eu" que há tempos conheceu e há pouco - quase - perdeu.
Veja bem, meu bem, como poderia eu te desprezar? O que há de tão desprezível em você que insiste em querer me mostrar? Da onde eu seria capaz de buscar forças para desistir se tudo o que minhas forças são capaz de fazer é insistir? Por que age assim? Você sabe que precisa de mim, e sabe que preciso de ti, de forma imensurável, sabe que sou dependente, inconsequente.
O seu "eu" é parte da minha essência, eu não seria capaz de te deixar ir, e sei que você também, mesmo que - bem - lá no fundo não quer me ver ir. No entanto, está distante. Por quê? Conte-me seus receios, eu tomarei-os para mim, mas não fique assim, não insista em ir para longe de mim.