8 de dez. de 2015

Fatídico

Existem vozes em minha mente, mas elas são reais. Suspiros, gemidos, gritos e ordens aos berros. Ofensas, palavras de dor, de pânico, pedidos de ajuda, sussurros que me fazem clamar por ajuda, em silêncio.
Hoje meu corpo teve a ideia de acordar, fatídica, maldita ideia. A mente não queria, mas teve de obedecer, e o que antes era um sonho estranho se tornou um pesadelo de olhos abertos, e a cada minuto era como se eu despertasse de um novo; o coração palpitava em disparada, as mãos suavam frio, ardendo em febre mal podia eu respirar, me mover.
Paralisia do sono, ou da vida? O corpo se levanta quando a mente já deitara, a alma já se fora.
Os homens que para mim sussurram, começam a percorrer meu corpo com suas mãos quase que invisíveis, porém pesadas. As mulheres que de mim debocham me apertam, empurram, pressionam, cada vez mais e com força cada vez maior para tão baixo que chego a temer a possibilidade de, de fato, afundar.
De súbito ouço uma voz que conheço, conheço bem, de alguém que quero e quero bem, e em morte súbita me ponho a sorrir.
Mas o corpo ainda se nega a obedecer a mente e à alma, insiste em continuar por aqui, e novamente essa fatídica insistência me prende ao inferno cujo qual criei, sem um propósito e sem uma prévia intenção ou planejamento.
De modo súbito volto a viver, não queria.

2 de dez. de 2015

Vous me plaisez

Curvou os dedos sobre o corrimão, de modo vagabundo, e suspirou fundo. Deu um meio sorriso, exalou seu perfume e atraiu os holofotes de um mundo, mundano, vago e agora mudo.
Se aproximou com calma sedenta, com cara sonolenta, sorriu outra vez, se esticou e cumprimentou.
Dever cumprido, cumprimento comprido? Não! Antes fosse.
Saiu de manso, deixou pro canto, virou amigo, irmão, conselheiro, abrigo.
Agora fudeu, não tem mais volta, até porque por ora, não foi embora, mas se for, por favor volta.

A morte vem antes

Repousou os pés sobre a balança, pinçou
Tirou as roupas, doeu
Fitou o reflexo no espelho, ardeu
Abriu o chuveiro, queimou
Deixou a água escorrer, latejou
Se banhou, quase tortura
Se enrolou em uma toalha, loucura pura
Caminhou para seu quarto, martelou
Abriu a gaveta, pensou
Pegou o objeto, hesitou
Admirou-o, sorriu
Utilizou-o, aliviou
Caiu, viveu.

Anerol

Você gostava do meu café, principalmente quando o levava na cama para ti. Você gostava dos meus abraços, principalmente quando eram inesperados, apertados. Você gostava do meu cafuné, principalmente quando era pra te fazer sorrir, dormir. Você gostava da minha questão, de ir e estar. Você gostava dos meus convites, aceitava, adorava. Você gostava dos meus traços tortos, rascunhos, rabiscos, ousava dizer que meus desenhos eram lindos. Você gostava da minha cama, de se aconchegar e nela dormir. Você gostava da minha familia, de rir e estar em sua companhia. Você gostava da minha mão, de segurar e beijar. Você gostava da segurança que dizia eu passar, alegava confiar sem precisar olhar.
Você gostava, ava, maldita conjugação.
Talvez nem gostasse, apenas lhe convinha gostar, não tinha mais ninguém capaz de tanto quanto eu, te amar. Agora, cega, acredita que tem, que há, e por isso não me lembra, não me conhece, do meu nome nem sequer já ouviu falar.
Gostava, ava, ou talvez nem gostasse, asse.
Malditas conjugações.